Falta de cronograma, indefinições e lobby, marcaram a COP27

Por: Marcelo SouzaChuvas torrenciais, incêndios devastadores, calor e frio extremos, secas prolongas e enchentes, e como se isso já não fosse o suficiente, vivemos uma pandemia global que dizimou milhões de vidas, senário político de muitos países muito instável e como se tudo isso já não fosse suficiente estamos presenciamos uma guerra na Europa, a maior desde 1945. Esse seria o “retrato falado” da situação do mundo que untou a COP26 e a COP 27.

Sem dúvidas dias no mínimo desafiadores.
Será que estamos vivendo o Apocalipse anunciado na Bíblia? Acredito que não! O aquecimento global é o único argumento possível. Os últimos cinco anos foram os mais
quentes desde 1850 e, segundo estudos, nas próximas duas décadas devemos observar um acréscimo significativo na temperatura do planeta se nada for feito.
Em resposta a esse cenário climático mundial, aconteceu na primeira quinzena de novembro a COP27, na cidade de Sharm el-Sheikh no Egito. A conferência contou com a
participação de mais de uma centena de países e dezenas de chefes de estados COP é a sigla em inglês para Conference of the Parties (Conferência das Partes), organizada pelas ONU para tratar especificamente sobre as mudanças climáticas.
Com exceção de 2020 em função da pandemia, o evento/encontro acontece todos os anos, desde sua primeira edição realizada em 1995 em Berlim, na recém unificada Alemanha.
Destaque para o aumento de notoriedade da conferência do clima, essa vem gerando interesse crescente da população, afirmação baseada no crescimento nas pesquisas em
buscadores como o Google sobre o assunto. E não é para menos, afinal, não precisa ser um especialista para perceber os sinais de um mundo cansado que dá indícios claros de
uma grave crise climática e que precisa de uma atenção urgente, um reset diríamos. Devemos fazer isso, antes que “ele” faça. Contudo, antes de falamos sobre os resultados da última COP me sinto impulsionado há falar sobre outra conferência, a COP21, que aconteceu em 2015 na França, tendo como
resultante o conhecido, pelo menos de ouvir falar, Acordo de Paris.
O documento é um marco na luta contra as mudanças climáticas e foi a primeira vez que todos os países concordaram em cooperar para conter o aquecimento global em 1,5°C até
2050 e se comprometeram em investir quantias expressivas em busca desse objetivo.
Os países assumiram a “lição de casa” de apresentar planos nacionais, definindo o quanto eles reduziriam as suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Esse plano foi batizado de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês).
O que já sabemos é que o compromisso assumido em 2015 não chegou perto da meta de 1,5°C de redução, muito pelo contrário, no ritmo que estamos vivendo, mesmo com o
lockdown vivido durante a pandemia, que, naturalmente contribuiu para a redução de emissões, não caminhamos para uma redução de 1,5°C, mas, na verdade, para um
aumento de 3°C. Assim, se falar em manter o aquecimento, abaixo de 2°C.
Quando falo sobre esse assunto, percebo muitas vezes pessoas com o seguinte entendimento.
Mas tudo isso para somente 2 °C?
Proponho uma experiência, ligue o ar-condicionado do seu carro, regule em uma temperatura que se sinta confortável, espere 10 minutos para que esteja estabilizado, em
seguida ajuste 2°C para mais ou para menos, certamente perceberá a relevância desse apenas 2 °C.
Durante a COP 27 embora tenha diversos temas que estão em pauta, os holofotes estão mais fortes sobre: Financiamento, mitigação, adaptação climática e perdas e danos.
Financiamento: Sem novidades esse é o tema de maior destaque das COPs. Durante o Acordo de Paris, os países signatários se comprometeram com o aporte de US$ 100 bilhões
por ano, iniciando-se a partir de 2020. Naturalmente desde 2019 o tema ganhou mais relevância nas conferências devido a dois fatores, o primeiro é que a meta de investimento não está sendo cumprida e o segundo, o retorno dos Estados Unidos ao acordo de Paris.
Infelizmente, não houve avanço nesse item, além de uma promessa sem definição, sem cronogramas e com a posição da China, na fala de Zhao Yngmin, em expressar ser contrário que o ardor de Paris seja escrito.
Mitigação: a expectativa era o comum esforços para reduzir a concentração e emissão de gases de efeito estufas, uma vez que segundo afirmação da ONU, os planos atuais, não são suficientes para evitar o aquecimento até 2030, esperando que os países, revisem seus planos de mitigação, principalmente os signatários do pacto de Glasgow (COP26) Apesar do reconhecimento dos prejuízos causados pelos combustíveis fósseis e
consecutivamente a necessidade de substituí-los por fontes de energia limpa, mudou-se de eliminação para redução gradual de petróleo e gás, além do carvão e abre muitas brechas
para a continuidade da exploração desses recursos, a principal fonte de emissão global de CO2.
Uma das marcas da COP27 é o aumento expressivo da presença de promotores/lobistas de energia fósseis ligados aos maiores produtores desse tipo de combustível, cerca de 25%
ao comprar com a COP26. Annalena Baebock, ministra das Relações Exteriores da Alemanha disse que é mais do que frustrante ver as medidas de eliminação de combustíveis fosses sendo bloqueadas pelos grandes produtores desse tipo de energia. Yeb Saño, chefe da delegação do Greenpeace na COP27, diz que a não menção à redução gradativa de
todos os combustíveis fósseis de forma geral ignora a urgência da necessidade de redução das emissões, já para o ministro norueguês de mudanças climáticas, Espen Barth Eide, houve um lobby muito forte dos combustíveis fósseis, isso ficou muito evidente.
Perdas e danos: Não se trata de um tema recente, mas que ganhou maior notoriedade esse ano. Para alguns, os impactos sofridos com os aquecimentos, são significativos, isso
geralmente para os países mais vulneráveis, por exemplo o arquipélago Tuvalu, pode simplesmente desaparecer, outros países perderão expressivas áreas, Software de simulações mostram que em casos extremos, muitas capitas, que geralmente estão na costa de seus países, sofreriam severos problemas. Assim esse termo “Perdas e danos” referência a situações que não podem ser mitigadas ou adaptadas Contudo, durante a Conferência não ficou definido, quais países serão beneficiados tão pouco de onde sairá o recurso, ficando para ser definido nas próximas conferências.
Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, propões a criação de um fundo para perdas e danos, sobre a luz de duas condições. Ampliar a base de doares, integrando grandes emissões de gases de efeito estufa, como por exemplo a China e fortalecer o compromisso em com a meta limita de + 1,5 °C de aquecimento.
A Guerra na Ucrânia que acarretou a redução do fornecimento do gás Rússia para parte da Europa Ocidental está forçando o uso de carvão um dos principais responsáveis por
emissões de gases de Efeito estufa como fonte de energia e essa situação deve se agravar com a chegada dos invernos, deixando ainda mais complicado o batimento da meda
de não exceder os 2°C e como lobby dos grandes produtores de combustíveis fosseis, pode se entender um afrouxamento para atingir o objetivo.
Pouco foi feito de forma clara nessa COP, já deixando expectativas para a COP 28 que será realizada em Dubai, enquanto isso, acredito que as manchetes que citamos no inicio
desse texto, não devem mudar muito e continuamos navegando para um aquecimento global certo. Mesmo assim, do limão se faz uma limonada e vejo que o mercado de compensação de carbono deverá ganhar maior expressão, abrindo para países como o Brasil, um mercado em potencial.
Marcelo Souza é CEO da Indústria Fox.
Sobre a Indústria Fox Fundada em 2009, a Indústria Fox é pioneira em reciclagem com base na captação de
gases no Brasil, foi a primeira fábrica de produção reversa de refrigeradores na América do Sul e se tornou referência em gestão e solução de armazenagem, manutenção, reforma e
reparo de equipamentos. A empresa se posiciona com programas próprios de eficiência energética, além de processos de remanufatura de produtos. Com isso, é a única no Brasil
a unir os três pilares de reciclagem, remanufatura e eficiência energética.
Tudo isso alinhado com novas tecnologias e desenvolvimento de economia circular e indústria 4.0.
@grupo.expressao